As TIC nos currículos do ensino básico e secundário ou uma visão de rejeição do conceito de nativos digitais
Autores consagrados que se dedicam ao estudo da evolução das sociedades, determinam que vivemos numa sociedade de informação, onde astecnologias da informação e comunicação (TIC) são cada vez mais o “animal dominante”. De entre esses autores podemos referir Manuel Castells, Nicholas Negroponte, Seymour Papert, Pierre Levy, entre muitos outros.
A sociedade hoje confunde-se com as TIC.
Prensky, em artigos publicados em 2001, cunhou o termo de “nativos digitais” e determinou que os humanos nascidos depois de 1983 assim se designariam, em oposição aos que já tinham nascido a essa data, a que apelidou de “emigrantes digitais”.
Esta percepção da realidade é aparentemente o pensamento vigente e que origina a tentação de não olhar para o fenómeno TIC como algo que deve ter uma aprendizagem estruturada e consistente. As TIC são algo que se assume como adquirido pela data de nascimento e toda a aprendizagem se fará como todas as outras de carácter informal: observação, assimilação, tentativa e aprendizagem. Mas na verdade não é isso que acontece. As crianças e jovens aprendem de forma informal muita coisa, mas apenas aquelas para que as quais a sua motivação e as necessidades naturais e sociais as conduzem. Esforços direcionados para a aprendizagem sem sentido não cabem normalmente nos seus “todo list” diários.
Tendo em conta este quadro, entendo que as TIC devem fazer parte dos currículos desde o 3º ano do 1º ciclo do ensino básico até ao 12º ano. Com objectivos e níveis de competências diferentes, naturalmente, tendo em conta o estádio de desenvolvimento das crianças e jovens.
No ensino básico vejo com admiração a experiência da Região Autónoma da Madeira onde o professor TIC e o professor titular de turma planeiam aulas em conjunto de forma que os processos de aprendizagem incluam instrumentos TIC. Não se trata de uma disciplina TIC mas de aprendizagens centradas no aluno em ambiente tecnologicamente evoluído.
Nos ciclos seguintes e particularmente no 3º ciclo, a organização de TIC em disciplinas autónomas parece mais adequado embora se deva fomentar a sua transversalidade, de forma que todas as disciplinas do currículo possam ganhar com as competências nela desenvolvidas.
Posto isto resta dizer que as TIC no ensino secundário podem ter carácter supletivo, ou particularmente adequado à área de estudos ou, ainda, fazer parte de currículos vocacionais ou profissionalizantes como áreas autónomas de estudo, dado que teríamos de considerar que as competência essenciais tinham sido adquiridas até à entrada deste ciclo.
Negar a existência de uma disciplina TIC nos currículos é quase como pensar que a disciplina de língua materna não tem sentido dado que o aluno é também um nativo linguístico. O problema aqui é que ele, na língua materna, sabe sempre menos que os professores. Se quisermos ser objectivos, o mesmo acontece com as competências TIC. Os alunos chegam à sala de aula armados de tecnologia, mas, de um modo geral, não as sabem usar, nem em termos de hardware nem de instrumentos de software em favor da sua produtividade pessoal ao nível das aprendizagens. E essa seria a tarefa da disciplina TIC – estruturar o pensamento, a lógica, e a utilidade de bem saber utilizar as TIC e a Internet ao seu próprio serviço e na partilha de conhecimento com os seus semelhantes.
Para bem de todos, temos de nos consciencializar que, para o bem e para o mal, o aparecimento da Internet e a evolução das TIC marcam uma nova era na vida da humanidade e para a qual os jovens devem ser preparados.
A Internet é, sem dúvida, uma tecnologia da liberdade, mas pode servir para libertar os poderosos e oprimir os desinformados e pode conduzir à exclusão dos desvalorizados pelos conquistadores do valor” (Castells, 2004: 317-325)
José Reis Lagarto
Professor Auxiliar
Universidade Católica Portuguesa
Referências bibliográficas:
Castells, M. (2004) A Galáxia Internet: Reflexões sobre Internet, Negócios e Sociedade. Lisboa: Fundação CalousteGulbenkian.Cohen, S. (1972). Folk devils and moral panics. London: MacGibbon & Kee)Prenksy, M. (2001). Digital natives, digital immigrants. On the Horizon, 9, 5, 1–6.
Sem comentários:
Enviar um comentário